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mariana

17 de Agosto, 2023

O Pintor Debaixo do Lava-Loiças - Afonso Cruz

mariana

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Depois de aceitar que ia quebrar a promessa de não comprar mais livros este ano, fui até à feira do livro da Figueira da Foz (tradição familiar é desculpável) e trouxe para casa alguns livrinhos – só de autores portugueses (chama-se atenuação da transgressão).

Quando estava na caixa a pagar, a senhora disse-me “Sabia que essa história aconteceu aqui? O Afonso é da Figueira da Foz! O lava-loiças é na Figueira da Foz!” e então passados uns dias, uma pessoa não aguentava não saber o que é que realmente se passou na Figueira da Foz e pegou no livro novo enquanto os que estão na estante há dois anos passaram para segundo plano, outra vez.

A minha história com Afonso Cruz está cheia de altos e baixos, e por isso, quando começo um livro dele vou meio no medo, meio na fé. Desta vez, acertou em cheio.

Assim muito resumidamente, o autor vem contar-nos a história, baseada em factos reais, da vida de Jozef Sors, um pintor eslovaco que nasceu a 23 de novembro de 1895, que passou por alguns países, até que eventualmente chegou à Figueira da Foz, em 1940, como refugiado judeu durante a Segunda Guerra Mundial.

Podia ser um livro muito simples sobre a vida de um homem, mas o Afonso decidiu escrever o maior conjunto de metáforas extraordinariamente lindas e condensá-lo em 172 páginas 90% citáveis e, portanto, para não copiar para aqui o livro todo, seguem-se algumas passagens, de forma MUITO contida.

“Os melhores beijos são invisíveis, são como um pintor debaixo do lava-loiças. É por isso que os namorados se escondem do mundo e fecham os olhos. Não há testemunhas e é por isso, por essa invisibilidade toda, que os beijos apaixonados são tão poderosos. Sors pensava que a Lua só existia porque havia pessoas apaixonadas. Ela não faria sentido algum num mundo sem paixão. Nem a Lua, nem as flores, nem os bombons.”

“O caminho a direito é solitário e estéril. Sors sentia-se cada dia mais triste, cada dia mais só. A sua mãe reparava nisso e pensava: os artistas veem coisas novas nas coisas velhas. Coitados. Destroem tudo, todo o conforto, toda a paz. O meu pobre filho! Quem me dera ter dado à luz um advogado ou um médico. São muito mais felizes.”

“Foi nesse ano que começou a Grande Depressão. Mas não tão grande como a de Sors. Os primeiros anos nos Estados Unidos foram uma ilusão. O seu passado parecia ter ficado definitivamente para trás, mas o passado nunca fica para trás. Anda sempre connosco. Mais ainda, vai à nossa frente – o futuro só o vemos através desse passado.”

Vamos todos agradecer ao Afonso por este presente e quem não chorar no epílogo é um ovo podre (metaforicamente!!!!).

12 de Agosto, 2023

DEPOIS A LOUCA SOU EU, Tati Bernardi

mariana

“Eu posso voltar a tomar remédios daqui a dez minutos, mas o fato é que neste minuto estou muito bem. Na real não estou muito bem, para falar a verdade estou até meio mal, mas estou um tanto mais parecida comigo”.

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Tati Bernardi vem, muito generosamente, contar-nos vários episódios da sua vida - momentos de desespero, desabafos honestos e abstratos, as tentativas de encontrar uma bóia de salvação para os ataques de pânico e ansiedade que sente desde sempre. Estas tentativas passam por episódios com n psiquiatras, n fármacos e algumas experiências com medicinas alternativas.

“A Tati é louca. A Tati é estranha.” Que medo de ser estranha. “Ela brigou com o namorado, a amiga, a mãe, o chefe, a empregada, a atendente da net. Ela foi embora antes da hora, ela disse o que sentia, ela fez cara de que estava tudo uma grande merda””.

Foram vários os momentos que fiquei com o coração apertadinho a ler este livro, tantas as vezes que me relacionei e penso que qualquer pessoa que tenha algum histórico de dificuldade com saúde mental vai encontrar nas palavras de Tati algum conforto.

Sinto que quando estamos em baixo, procuramos esse conforto na nossa família, nos nossos amigos, gatos e cães, trabalho, todo o tipo de hobbies e, para algumas pessoas, nos livros e na escrita. E depois quando estamos mesmo em baixo e cansados de chatear a nossa família, amigos, pets e plantas, criamos um blog onde podemos despejar os nossos pensamentos de meia tigela sobre o que mais amamos, os livros e a escrita (eheheh).

Então, vim aqui parar, estou aqui, estou não muito bem, até estou meio mal, mas… mais parecida comigo.

“Meu amigo, se você é bizarro, saiba três coisas. Uma: você não está sozinho. Duas: você é um cara legal, pode acreditar. Três: as pessoas rasas são mais felizes, mas elas nem sentem isso de verdade porque são rasas, então não vale”.

M ♡