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mariana

28 de Dezembro, 2023

As Pequenas Memórias - José Saramago

mariana

“Muitas vezes esquecemos o que gostaríamos de poder recordar, outras vezes, recorrentes, obsessivas, reagindo ao mínimo estímulo, vêm-nos do passado imagens, palavras soltas, fulgurância, iluminações, e não há explicação para elas, não as convocámos, mas elas aí estão.”

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José Saramago traz-nos pequenas memórias, fragmentos que saltam no tempo, as primeiras recordações, a sua infância e juventude na Azinhaga e em Lisboa. A escola, os pais, os avós, os amigos, os amores e desamores, os vizinhos, a Lua, o rio e as árvores – todos estes elementos da sua vida a funcionar como uma grande família.

Comoveram-me os relatos das dificuldades pelas quais passou, a fome que muitas vezes sentiu num Portugal nos anos 20 e 30. Emocionou-me a forma como o autor escreveu sobre a morte do irmão (desconhecendo a data exata do seu falecimento, Saramago iniciou uma pesquisa em hospitais, cemitérios e na Conservatória do Registo Civil – o que inspirou o romance “Todos os Nomes”, um dos meus preferidos), as mortes do primo e dos avós.

“Tu estavas, avó, sentada na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para o céu de que nada sabias e por onde nunca viajarias, para o silêncio dos campos e das árvores assombradas, e disseste, com a serenidade dos teus noventa anos e o fogo de uma adolescência nunca perdida: "O mundo é tão bonito e eu tenho tanta pena de morrer." Assim mesmo. Eu estava lá.”

Um conjunto de doçuras e travessuras que também me fizeram rir muito. Tem tudo o que um livro de memórias pede e está escrito como só ele sabe. Honestamente, quando vi as palavras “Pichatada”, “Curroto” e “Caralhana” escritos por um Nobel da Literatura quase bati palmas.

Estou pronta para uma visita de estudo a Azinhaga. Quem vem?