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mariana

19 de Fevereiro, 2024

Foster - Claire Keegan

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Numa Irlanda rural, por volta dos anos 80, uma menina é deixada temporariamente em casa de familiares, que não têm filhos, enquanto a família dela se prepara para a chegada de mais um bebé.

Durante esse verão, seguimos o ponto de vista desta criança nas suas rotinas de dia a dia, como a ajuda nas lides da casa, o ver televisão, as conversas, as saídas com o casal para onde eles vão, a compra de roupas e livros, mas não só. A convivência faz com que entre eles sejam trocados momentos especiais. O que ao início parecia um cenário assustador, deu lugar a um sítio onde a personagem principal encontra um sentimento de calma, respeito, aprendizagem e amor, ao invés de se sentir abandonada.

“’There are no secrets in this house.’ ‘Where there’s a secret,’ she says, ‘there’s shame – and shame is something we can do without.’

‘Okay.’ I take big breaths so i won’t cry.”

A escrita, apesar de simples e clara, é muito bonita e conseguiu entregar uma história comovente, onde o sentimento de empatia pelas personagens e pelos seus desejos e medos, surgiu de mansinho e foi ficando até depois de ter terminado a leitura.

“I dip the ladle and bring it to my lips. This water is cool and clean as anything I have ever tasted: it tastes of my father leaving, of him never having been there, of having nothing after he was gone.”

Depois de ter lido “Small Things Like These” da mesma autora e de não ter adorado, este pequeno livro surpreendeu-me pela positiva. Penso que tenho que ir a um terceiro - "So Late in the Day" para o desempate.

(Traduzido em português com o título "Acolher")

13 de Fevereiro, 2024

These Precious Days - Ann Patchett

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“These Precious Days” (2021) é o segundo conjunto de crónicas de Ann Patchett, sucessor de “This is a story of a happy marriage” (2013). Descobri este livro no blog da Rita da Nova (podem ler a review aqui) e fui logo adicionar ao carrinho de compras. Não sei porque me chamou tanto a atenção, mas senti de início que ia ser um livro que iria adorar.

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A primeira crónica tem o título “Three Fathers”, dá o mote ao livro com o relato da sua infância e juventude e a maneira como o pai biológico e os dois seguintes padrastos influenciaram a sua vida como escritora – um a apoiar incondicionalmente, um a duvidar constantemente e um que neutralmente estava lá para ela, a fazer sentir a sua presença.

A partir daí, a autora explora temas como o amor, relações familiares, o sentido de comunidade, a abertura da sua livraria, o facto de não ter tido filhos, e em grande parte, a amizade.

A crónica que dá título ao livro conta-nos a história de uma amizade em circunstâncias adversas. A autora conheceu o ator Tom Hanks em trabalho e nesse encontro conheceu também a sua assistente, Sooki. As duas foram trocando emails e nasceu uma relação entre elas. Sooki descobriu que tinha cancro e após alguns tratamentos, começou a ser seguida no hospital onde o marido de Ann trabalha, para iniciar um tratamento experimental. Depois de muita insistência, Sooki ficou temporariamente a viver em casa de Ann, tempo este que coincidiu com o início do COVID. O confinamento proporcionou que esta relação florescesse e que as duas passassem por momentos únicos na vida – a partilha de casa, tornados, cogumelos, desporto, arte e o confronto diário com a mortalidade fizeram desta uma amizade que funcionou como um colete salva-vidas.

Não me relaciono com muitas das crónicas e talvez por isso tenha gostado tanto, por não ter pessoalmente passado (ainda) pelas experiências que a autora relata, e mesmo assim ter causado um impacto em mim. A maneira como Ann fala sobre a amizade relembrou-me o valor que as pessoas que nos fazem sentir em casa têm, o que estar totalmente confortável com alguém significa e como esse sentimento é difícil de encontrar noutra pessoa.

Estou entusiasmada para entrar no mundo de ficção de Ann Patchett. Alguma recomendação por aí?

04 de Fevereiro, 2024

Filho da mãe - Hugo Gonçalves

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“A ausência da minha mãe é aquilo que sou. Se ela não tivesse morrido, talvez nem sequer escrevesse. Teria outra identidade, outra história.”

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Ouvi falar deste livro pelo próprio autor no podcast “Vale a Pena” da Mariana Alvim. Quando questionado se tinha sido difícil de escrever, Hugo disse que não, por ter sido um processo de muitos anos de investigação, psicoterapia e análise, e que apesar de terem existido momentos “poderosíssimos” nesta busca, quando passou os pensamentos para o papel, havia já muitas coisas pensadas.

Hugo revela no podcast que queria que este livro fosse uma reflexão profunda de um homem maduro sobre o luto e sobre a perda e não manipulador por relatar o sofrimento de uma criança de 8 anos, o que seria desonesto para com os leitores.

Eu gravito para livros sobre luto e sobre relações com mães e, portanto, quando encontro um que junte estes dois temas, lá vou eu feliz e com vontade de chorar (alguns dos que li são “Crying in H Mart” – Michelle Zauner, “I’m glad my mom died” - Jennette McCurdy, “A very easy death” – Simone de Beauvoir).

O autor partilha os últimos dias antes e os primeiros dias após a morte da sua mãe, assim como várias fases do seu crescimento, como a falta dela modelou a sua personalidade e as escolhas que foi fazendo relativamente às relações com as pessoas à sua volta, a sua vida em constante mudança.

“Obriguei-me a ficar, acatando assim o cumprimento do calendário da dor, tão fundamental na experiência e na aprendizagem de estar vivo como é o tempo de que precisamos para fazer o pão e o vinho. Há coisas que não podem ser apressadas ou esquecidas. Há coisas que temos de deixar que passem por nós.”

Quando leio este tipo de livro, acho algo estranho dar uma opinião sobre a história em si, uma vez que se trata da história real da vida de uma pessoa. Posso, contudo, dizer que foi um livro que adorei ler e tecnicamente acho que está muito bem escrito. Emocionei-me várias vezes e tive de parar outras tantas para dar um respiro por ter passagens tão duras (e bonitas).