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mariana

27 de Maio, 2024

Edimburgo e muitos livros

mariana

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Hoje trago um post diferente – assim um book haul misturado com as livrarias que visitei quando fui a Edimburgo (primeira cidade literária pela UNESCO), no passado mês de abril. Fui fazer uma roadtrip pelas Highlands, seguindo para a Ilha de Skye, passando por Glasgow e acabando em Edimburgo. Aqui chegada, e com o tempo já contado, consegui reservar umas horinhas para passear pela cidade em busca destes cantinhos mágicos. Cá vamos:

Topping & Company

Esta é a maior livraria independente de Edimburgo, com dois pisos - no rés do chão existem as novidades e encontrei uma mesa com autores escoceses. Fiquei logo com o “Young Mungo” de Douglas Stuart na mão. Logo ao lado peguei no “In Memoriam” de Alice Winn. E depois disto descobri o primeiro andar e fui-me abaixo da cabeça. Foi o espaço mais cosy onde estive, num dia cinzento e chuvoso, uma luz linda e várias salas com livros do chão ao teto. O que se pode querer mais?

Blackwell's

Depois disto, fui direta à Blackwell’s, a livraria mais antiga de Edimburgo (1848). Notou-se logo uma grande diferença, uma vez que saltei de uma livraria independente para uma cadeia que tem várias lojas distribuídas pelo Reino Unido. Esta em questão era tão grande que me senti como se estivesse no Louvre e a meio já ia em modo cruise control a passar os olhos pelas estantes. Daqui trouxe o “Hood Feminism” de Mikki Kendall e o “Tomorrow Sex Will Be Good Again” de Katherine Angel.

Lighthouse Bookshop

Voltei ao território livrarias independentes, esta chamada Lighthouse que se define por ser “a queer-owned and woman led independent community bookshop. We are an unapologetically activist, intersectional, feminist, antiracist, lgbtq+ community space”. É um espaço super pequeno, mas cheio de personalidade, que adorei visitar. Vim com o “all about love” de bell hooks.

Ainda consegui passar numa loja de venda de artigos em segunda mão e assim como por magia encontrei o “Klara and the Sun” de Kazuo Ishiguro em ótimo estado e pela simpática quantia de 3£. Not too shabby!

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Adorei esta viagem e acho este país o destino perfeito para quem procura paisagens deslumbrantes, um ambiente acolhedor onde quer que se vá e claro, muitos livrinhos! 

20 de Maio, 2024

A Invenção Ocasional - Elena Ferrante

mariana

Foi em 2022 que li a tetralogia napolitana de Elena Ferrante e que fiquei com a maior ressaca literária de sempre. Até hoje não encontrei uma obra que se assemelhasse ao que essa me fez sentir. Posto isto, e por serem tão poucos, desde aí que ando a adiar ler mais livros desta autora (como “crónicas do mal de amor” e “a vida mentirosa dos adultos”). Entretanto e a precisar de algo certeiro, não aguentei mais e fui à biblioteca buscar esta “invenção ocasional”.

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Durante um ano, em 2018, a autora escreveu semanalmente uma coluna para o jornal britânico The Guardian, sobre acontecimentos passados ou presentes, sobre os mais variados temas, imagens, gestos, até mesmo filmes ou leituras. Em 2019, os cinquenta e um textos publicados na revista foram condensados num só livro e assim nasceu este conjunto de crónicas.

A sua forma única de ver o mundo e o exprimir em palavras está mais do que nunca aqui presente. As crónicas são sobre sentimentos, sociedade, nacionalismo, feminismo, religião, ciúmes, medos, maternidade, amizade – tudo e mais alguma coisa. Fá-lo de uma forma tal, que mesmo quando se trata de um tema difícil, o sentimento que trespassa é de calma.

Na impossibilidade de transcrever o livro todo para aqui, deixo uma passagem de uma das crónicas que mais gostei – “as odiosas”:

“À partida recuso-me a dizer mal de uma outra mulher, ainda que ela me tenha insuportavelmente ofendido. É uma posição que me impus a mim própria com esforço porque conheço bem a condição feminina: é a minha, observo-a nas outras, e sei que não há mulher que não faça um esforço enorme, exasperante, para chegar ao fim de cada dia. Na miséria ou no desafogo, ignorantes ou cultas, belas ou feias, famosas ou desconhecidas, casadas ou solteiras, trabalhadoras ou desempregadas, mães ou sem filhos, rebeldes ou obedientes, todas somos marcadas em profundidade por um modo de estar no mundo que, até mesmo quando o reivindicamos como nosso, tem a raiz envenenada por milénios de dominação masculina.”

Não tenho dúvidas que é uma das autoras da minha vida. A sua escrita inspira-me, admira-me, faz-me sentir reconfortada. Nas suas palavras encontro uma amiga (genial). E agora tenho de me distrair para não ir de imediato ler tudo o que já escreveu.

13 de Maio, 2024

Stoner - John Williams

mariana

Sempre que via este livro por aí, chamava-me a atenção, não sei se pela capa, se pelo título. Numa conversa em janeiro com umas pessoas que conheci pelo bookstagram, disseram-me que era um dos livros das suas vidas e então decidi finalmente lê-lo.

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Stoner é o apelido da nossa personagem principal, William Stoner, filho de agricultores que ingressa na universidade para estudar as novas técnicas de agricultura e acaba por se apaixonar pela literatura e seguir a carreira de professor, tornando-se num académico. É esta a história que seguimos, desde o início dos estudos, à solidificação da sua profissão, ao encontro e desencontro de amizades e amores, paternidade, intrigas, até ao fim da vida.

Perante os problemas que lhe vão aparecendo, existe correntemente uma inação e fuga ao conflito por parte de Stoner. Este tipo de atitude faz com que, quando confrontado com pessoas desagradáveis ou situações injustas, a personagem não se defenda e acabe por ver grandes paixões (românticas ou não) tornarem-se em grandes pesadelos.

Acompanhar esta história do início ao fim – apesar de ser com alguma distância e frieza que o autor nos narra os episódios da vida de Stoner – eleva o impacto de todas as falhas e desilusões que enfrenta. A personalidade da personagem, o modo como age, e talvez por ser uma história tão vulgar, sem qualquer tipo de suspense ou irrealismo, faz com que acabemos por olhar para as nossas próprias experiências e nos identifiquemos com algumas situações.

“Sometimes, immersed in his books, there would come to him the awareness of all that he did not know, of all that he had not read; and the serenity for which he labored was shattered as he realized the little time he had in life to read so much, to learn what he had to know.”

Apesar de não se ter tornado um dos livros da minha vida, após um mês de o ter lido, ainda penso nele regularmente e tenho alguma vontade de o reler. Se estão à procura de uma escrita bonita e bem construída, sem rodeios, descrições da vida tal e qual como ela é, muita melancolia e amor pelos livros, aconselho darem uma oportunidade a este Stoner.