A Palavra Que Resta - Stênio Gardel
Ouvi falar pela primeira vez deste livro há alguns anos, pelo youtuber Paulo Ratz, a.k.a. "Livraria em Casa", que falou sobre ele com tanta paixão que fiquei desde logo intrigada. Entretanto, ganhou o National Book Award na categoria de literatura traduzida, que é uma grande conquista para a língua portuguesa. Por tudo isto, quando vi que tinha sido publicado em Portugal (junho, Dom Quixote) e o descobri no Kobo Plus, não tardou até começar a lê-lo.
Raimundo guarda consigo a carta que Cícero lhe enviou há mais de 50 anos. Aos 71 decide que está na altura de aprender a ler e escrever e assim, enfrentar as palavras que o amor da sua vida lhe deixou, quando o seu romance foi descoberto e Cícero desapareceu.
Com esta decisão de olhar para trás, todas as memórias desses anos ressurgem, e é isso que acompanhamos ao longo do livro. O passado traz-nos a história de amor, os conflitos familiares, a pobreza, a ocultação da sexualidade, o preconceito, a violência, o desejo, a vergonha e, no final do dia, o poder que existe na palavra escrita.
"Eu fiquei pensando se um dia a gente ia poder fazer do mesmo jeito na frente de outras pessoas, passar pelo mundo de coração e mão dada um ao outro, e naquele instante, tão ligeiro, o tempo menor que o tempo de uma palavra se forma no pensamento da gente."
Devo dizer que acho a premissa excelente, assim como as mensagens que o autor quer passar. A minha curiosidade em saber o conteúdo da carta esteve sempre presente. Acho que Stênio Gardel escreve frases lindíssimas. Há muito para gostar aqui, então... porque é que não funcionou para mim?
A estrutura narrativa deixou-me confusa em várias ocasiões (o que não costuma acontecer); não senti que existisse o desenvolvimento e aprofundamento merecido das personagens; achei que algumas situações (apesar de querem provar um ponto) foram demasiado violentas, demasiadas vezes; o final não foi ao encontro das minhas expetativas - estou ainda a decidir se gostei dele ou não.
Amava ter amado, mas para ser sincera, não me conquistou. Ficou assim-assim, infelizmente. De qualquer das formas, tenho intenção de ler mais deste autor, talvez num outro formato.