A Última Solidão - Carmen Garcia
Peguei neste livro com poucas expetativas e sem saber ao certo para o que ia. Logo nas primeiras páginas percebi que tinha uma “big storm coming”.
Carmen Garcia relata várias histórias que conheceu como enfermeira a trabalhar em lares de terceira idade. Neste livro são analisados temas como a infantilização e despersonalização dos idosos, o seu abandono por parte de familiares, a demência e as consequências desta doença na pessoa e na sua família, a solidão, o sexo e o amor na velhice.
É difícil ler este livro e ainda mais difícil escrever sobre ele e a forma como me tocou. Li-o em poucas horas e acho que foi o livro que mais me fez chorar nos 200 que já li.
A fragilidade em que se encontram estas pessoas institucionalizadas parte-me o coração. É demasiado fácil retirarem-lhes o respeito e a dignidade que merecem. Temos medo de ver a nossa própria mortalidade espelhada e a velhice a aproximar-se, mas, se formos sortudos, também nós lá chegaremos um dia e isso é uma das razões para pararmos de fingir que este problema não existe.
“A velhice, aquela da qual todos fugimos, mas à qual todos desejamos chegar, pode ser boa se nela existirem amor e respeito. A velhice só é negra quando profundamente marcada pela solidão.”
Cada história traz um novo tópico, mas todas elas me impactaram imenso, talvez pela sensibilidade e clareza como são contadas. Acabei este livro a repensar na forma como vejo e trato os idosos e penso que esse seja um dos grandes objetivos da autora.
Carmen Garcia tem também uma coletânea de crónicas intitulada “Tudo o que ouço é coração”, que anseio por ler a seguir.